A sigla CAR vem da expressão em inglês chimeric antigen receptor, ou “receptor de antígeno quimérico”. Esse receptor é a parte do linfócito T, um dos responsáveis pela defesa do nosso organismo, que reconhece uma célula doente ou infectada que deve ser destruída.
A Dra. Carolina Melo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Translacional do Mário Penna, explica que o processo envolve retirar células T do sangue do paciente e modificar geneticamente essas células, para assim expressar um receptor que reconheça o câncer. “É necessário, ainda, cultivar essas células em laboratório e depois injetá-las no paciente, como se fosse uma transfusão de sangue, para se ligarem às células cancerígenas e eliminá-las.” reforçou a pesquisadora.
Essa terapia ganhou os noticiários do Brasil em janeiro de 2023, quando foi anunciada a realização desse procedimento pela primeira vez no país. O procedimento aconteceu em um paciente portador de linfoma não Hodgkin, que já tinha passado por três diferentes tratamentos sem resultado. Apesar de ter sido aprovada em 2022 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até então a terapia com células CAR-T estava disponível apenas para pesquisa.
Dra. Carolina ressalta que, apesar de ser uma das abordagens mais promissoras no enfrentamento ao câncer, ainda existem grandes limitações relacionadas a essa terapia. “Dentre as limitações estão as toxicidades associadas às células CAR-T com risco de vida, como síndrome de neurotoxicidade imunológica e citopenias prolongadas, por exemplo. Mas talvez o maior desafio seja a acessibilidade devido ao alto custo do procedimento, estimado atualmente em 2 milhões de reais” reforça Dra. Carolina
No Brasil, o Centro de Terapia Celular da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (FUNDHERP) é a primeira instituição a desenvolver tecnologia 100% brasileira para a produção de células CAR-T. Em setembro, a Anvisa autorizou a FUNDHERP, em parceria com o Instituto Butantan, a realizar um ensaio clínico no Brasil com o objetivo de se avaliar a eficácia no tratamento de pacientes com leucemia linfóide aguda B e linfoma não Hodgkin B, recidivados e refratários, ou seja, nos quais a doença tenha retornado ou que não responda mais ao tratamento. Serão tratados e monitorados 81 pacientes com o produto. A previsão é que o estudo seja encerrado em dezembro de 2024 e, se os resultados forem bons, que o produto seja registrado rapidamente para que as pessoas tenham acesso a uma opção de tratamento segura, eficaz e de alta qualidade no SUS.
A pesquisadora lembra que o caminho ainda é longo para que possamos ter uma cura acessível para a maioria dos pacientes oncológicos. “Estudos com tumores sólidos ainda estão em desenvolvimento, e atualmente essa terapia está restrita a alguns tipos de linfomas e leucemias. Mas, a potencialidade das células CAR-T é inegável e saber que já possuímos uma produção nacional nos traz um sopro de esperança de ter essa tecnologia disponível no SUS em um curto espaço de tempo.” finaliza.
O Núcleo de Ensino, Pesquisa e Inovação do Mário Penna pretende expandir os estudos no que tange à terapia com células CAR-T. A proposta é que sejam ampliadas e desenvolvidas pesquisas na área após a implementação da Sala de Cultivo na unidade.
Dra. Carolina Melo | Pesquisadora do Mário Penna e PhD em Genética Humana