O câncer de mama triplo negativo (CMTN) é um dos subtipos mais desafiadores e agressivos da oncologia. A denominação “triplo negativo” se refere à ausência de três importantes alvos terapêuticos: os receptores hormonais de estrógeno e progesterona, além da proteína HER2. Essa característica limita as opções de tratamento, já que as terapias direcionadas a esses marcadores não são aplicáveis. Além disso, o CMTN pode apresentar perfis genéticos variados, o que torna uma abordagem padronizada muitas vezes ineficaz para todos os pacientes.
Em busca de estratégias terapêuticas mais eficazes e que ofereçam um melhor prognóstico para as pacientes, o Laboratório de Pesquisa Básica e Translacional do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Inovação (NEPI) do Instituto Mário Penna está conduzindo um estudo para identificar mutações específicas e alterações genéticas desse tipo de tumor, utilizando a tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS).
Segundo a Dra. Carolina Melo, pesquisadora do Laboratório, essa abordagem é fundamental para o desenvolvimento de terapias personalizadas. “Estudos recentes mostraram que tumores triplo negativos frequentemente apresentam uma alta carga mutacional, ou seja, um grande número de mutações, tornando-os candidatos ideais para imunoterapias, como os inibidores de checkpoint, que ativam o sistema imunológico”, destaca a Dra. Carolina. Ela explica ainda que, graças aos avanços na caracterização molecular desse subtipo nos últimos anos, o Brasil tem incorporado novas opções terapêuticas, como o uso de inibidores de PARP para pacientes com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.
A pesquisadora ressalta que um dos objetivos do trabalho do NEPI é tornar esses testes genéticos mais acessíveis, eliminando a desigualdade no tratamento causada por barreiras financeiras, uma vez que o acesso a essas terapias ainda é desigual, especialmente em áreas menos favorecidas do país. Ela também chama a atenção para a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde, pois a dificuldade na interpretação dos resultados desses testes dificulta seu uso na clínica. “Somente com a integração de abordagens multidisciplinares e a pesquisa contínua conseguiremos otimizar o tratamento e melhorar o prognóstico das mulheres diagnosticadas com câncer de mama triplo negativo no país”, finaliza a pesquisadora.