O câncer colorretal, apesar de ser o segundo tipo de câncer mais comum em homens e mulheres (excetuando-se o câncer de pele não melanoma), é também um dos mais evitáveis. Isso porque ele não aparece de repente. Esse tipo de câncer tem sua origem em pólipos (crescimento anormal de células) localizados no intestino grosso nas regiões do cólon, reto e ânus. Eles geralmente não causam sintomas e podem levar entre 10 e 15 anos para se desenvolverem em câncer. Mas, se detectados durante uma colonoscopia (exame que captura imagens em tempo real do intestino) podem ser removidos antes que o câncer aconteça.
Contudo, apenas 40% dos casos de câncer colorretal são detectados em estágio inicial. A grande maioria é detectada em estágios avançados, quando os sintomas são mais evidentes e os tratamentos existentes menos eficazes.
Mas, se existem maneiras de diagnosticá-lo precocemente, por que isso ainda acontece? De acordo com a Dra. Carolina Melo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Translacional do NEP, uma das principais razões é que ainda existe muito preconceito com a colonoscopia, por ser uma técnica invasiva, que exige um preparo (limpeza) do cólon considerado desagradável por incluir o uso de laxantes e grande ingestão de água.
A colonoscopia de rotina deve ser realizada na população, em geral, a partir dos 50 anos, com intervalos regulares que podem ir de 3 a 5 anos, de acordo com a orientação médica.
“Se todos tivessem consciência do sofrimento que podem ser evitados com o diagnóstico precoce do câncer colorretal, talvez não houvesse espaço para este tipo de preconceito. Existem outras maneiras de se rastrear sinais do câncer colorretal, mas a colonoscopia é a única que pode evitar que ele se inicie através da remoção dos pólipos”; ressalta Dra. Carolina.
Algumas pessoas possuem um maior risco de apresentarem essa doença. Cerca de 3% dos casos (1 em cada 30) de câncer colorretal é causado por uma síndrome hereditária chamada Síndrome de Lynch. Nessa síndrome, mutações em genes que ajudam a reparar danos no DNA, podem aumentar em até 50% o risco de uma pessoa desenvolver câncer colorretal, geralmente relativamente ainda jovem. Por isso, conhecer o histórico familiar é muito importante nesses casos.
Além disso, para quem possui problemas de inflamação intestinal, como doença de Crohn e retocolite ulcerativa, ou tem um parente de primeiro grau que já teve algum tipo de câncer no intestino, esse exame deve começar a ser feito a partir dos 40 anos de idade.
Uma boa notícia é que os pesquisadores estão trabalhando na busca de biomarcadores, como células específicas, moléculas ou genes, que permitam o diagnóstico precoce do câncer de maneira menos invasiva e mais assertiva. Outro avanço no tratamento do câncer colorretal é a recente publicação de resultados promissores da aplicação de uma vacina protetiva contra o câncer colorretal hereditário em camundongos.
Quer saber mais sobre os avanços científicos no diagnóstico e tratamento do câncer colorretal? Na próxima edição, Dra. Carolina continua falando sobre esse tema em nossas redes sociais e no Infoco.
- Texto escrito pela Dra. Carolina Melo, PhD em genética humana. Ela trabalha há mais 10 anos na pesquisa em oncologia e, atualmente, é parte da equipe de pesquisadores do NEP.