Colocar o paciente no centro do cuidado se tornou uma tendência nas últimas décadas, juntamente com o desenvolvimento do conceito de medicina preditiva (diagnóstico precoce para dar mais agilidade ao tratamento e proporcionar bem-estar ao paciente). No entanto, a evolução digital no campo da saúde, fortemente impulsionada pela pandemia da Covid-19 e pela possível pós-pandemia, transformou o que era uma tendência para o futuro em uma necessidade imediata.
Mas, por que colocar o paciente no centro do cuidado é tão importante?
Colocar o paciente no centro do cuidado é devolver a ele o protagonismo sobre sua própria saúde. É priorizar suas necessidades, desejos e direitos, com foco na qualidade da assistência. Esta abordagem humanizada possibilita a tomada de decisão mais segura e informada por parte dos prestadores de cuidados de saúde em relação às condições clínicas, sem desconsiderar que o paciente é o elemento central para que as terapêuticas e orientações recomendadas sejam efetivamente executadas.
Além disso, há outro fator que torna inevitável esse movimento: o próprio paciente, seguindo as tendências do novo modelo de consumo que se baseiam na era da experiência e nas novas oportunidades de experimentação, sente a necessidade de participar da tomada de decisão juntamente ao médico e à equipe de saúde. Com o aumento das iniciativas para melhorar a experiência do paciente, assim como o uso expressivo da internet e das novas tecnologias que permitem o acesso à informação de forma aberta e ilimitada, um novo perfil de paciente vem emergindo e fazendo com que os serviços de saúde enxerguem cada vez mais a necessidade de adoção de um modelo de decisão compartilhada.
Outras evoluções digitais no campo da saúde também devem ser consideradas nesse contexto, uma vez que surgiram para apoiar o trabalho das equipes de saúde e ajudá-las a oferecer os melhores serviços aos pacientes. A tecnologia da informação e a comunicação (TIC) permitiu melhorar o processo de atendimento com novos recursos que antecipam as necessidades do paciente e o mantêm informado sobre seu tratamento. A TIC também permitiu desenvolver sistemas modernizados para registro médico, monitoramento remoto, preservação das narrativas digitais do cuidado dos pacientes nas plataformas EHR (electronic health records), etc., resultando em um atendimento mais seguro e preciso.
O avanço dessa era digital também possibilitou que os usuários usem dispositivos on-line para enviar sinais vitais e dados clínicos diretamente para os profissionais de saúde quando necessário. Permite, ainda, que ocorram consultorias e consultas por videochamada, bem como entre a equipe multidisciplinar, facilitando dessa forma o monitoramento das condições clínicas que necessitam de acompanhamento, além de permitir a criação de novas diretrizes para melhorar a assistência, aumentar a qualidade de vida do paciente e, por último, mas não menos importante, incluí-lo em ações da medicina preventiva.
O que podemos concluir disso tudo?
Que um novo perfil de paciente que busca o protagonismo para acessar tratamentos e serviços de saúde, já é realidade e vem para somar com o modelo assistencial que o coloca no centro do cuidado, como elemento central de todo o processo assistencial, desde a criação das estratégias até a realização da assistência e do cuidado. Ignorar essa realidade é operar no passado, onde o médico era o elemento exclusivo da assistência e o paciente um executor dos comandos entregues pelo profissional. Permanecer nesse modelo não é apenas seguir na contramão da evolução, mas deixar de oportunizar um modelo assistencial ao qual o paciente, mais facilmente, disporia de maior interesse e engajamento, o que consequentemente poderia impactar positivamente no tratamento.
Por: Márcio Sanches | Médico e Diretor do Instituto Mário Penna – Ensino, Pesquisa e Inovação