A bioinformática é a ciência que utiliza ferramentas computacionais para analisar dados biológicos, sendo essencial para decifrar o código genético dos seres vivos. No caso dos seres humanos, esse código é formado por quatro bases nitrogenadas – estruturas básicas que formam o DNA – que se combinam em sequências totalizando aproximadamente 3,2 bilhões de bases. Essas estruturas codificam cerca de vinte mil genes, responsáveis por armazenar as informações necessárias para a formação, o desenvolvimento e o funcionamento do organismo.
“Um código, de proporções tão grandes e complexas, não pode ser analisado simplesmente pelo olho humano. É necessário o uso de ferramentas que auxiliam a desvendar esse código, e, é exatamente neste cenário que a bioinformática está inserida”, reforça Fábio Queiroz, Pesquisador do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Inovação.
Com o aprimoramento das técnicas de sequenciamento disponíveis, tornou-se mais rápido e acessível obter informações sobre o código genético do ser humano. Isso gerou uma enorme quantidade de dados genéticos, aumentando a necessidade de ferramentas que otimizem a análise e o armazenamento dessas informações. Nesse contexto, a bioinformática surge como uma aliada estratégica para ampliar a capacidade de investigação e compreensão dos dados biológicos.
No enfrentamento ao câncer, a bioinformática assume um papel ainda mais crucial. O câncer é causado por mutações nas sequências genéticas, e, com o auxílio dessa tecnologia, é possível explorar essas alterações em detalhes, revelando características pouco conhecidas da doença. Um exemplo marcante é a identificação dos genes BRCA1 e BRCA2, fundamentais para entender os cânceres de mama e ovário hereditários. Essa descoberta revolucionou o tratamento dessas doenças, permitindo o desenvolvimento de medicamentos altamente eficazes e direcionados a perfis genéticos específicos, tornando a medicina personalizada uma realidade.
Encontrar biomarcadores como aqueles atrelados aos genes BRCA, é uma prioridade para boa parte dos bioinformatas que estudam o câncer. Visto que, quanto mais assinaturas genéticas forem identificadas nos mais diversos tipos de câncer, maior é a chance de se desenvolver abordagens terapêuticas de precisão e no menor intervalo de tempo possível. O que favorece a sobrevida com qualidade de vida dos pacientes oncológicos.
O NEPI-Mário Penna conta com pesquisadores especialistas em bioinformática, que buscam biomarcadores em vários tipos de câncer. Eles buscam identificar assinaturas genéticas, como mutações e perfis de expressão, que possam direcionar tratamentos mais eficazes e personalizados.
Um exemplo recente dessa atuação é um estudo realizado em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Utilizando a bioinformática, os pesquisadores identificaram uma assinatura de long non-coding RNAs preditores da resposta ao tratamento quimiorradioterápico do câncer de colo uterino. Esses resultados abrem caminho para o desenvolvimento de testes que avaliem, antes do início do tratamento, as chances de sucesso da proposta terapêutica. Essa abordagem contribui para tratamentos mais eficazes e melhora a qualidade de vida das mulheres que enfrentam esse tipo de câncer.
O estudo foi publicado no periódico Non-Coding RNA Research e pode ser acessado por meio do link: https://doi.org/10.1016/j.ncrna.2024.10.004.
Fonte: Dr. Fábio Ribeiro Queiroz, mestre e doutor em Ciências da Saúde e responsável pela plataforma de sequenciamento e bioinformática do Instituto Mário Penna.