Os cânceres colorretais são tumores malignos que acometem o intestino grosso, principalmente nas regiões chamadas de colo, reto e ânus. É um dos mais comuns, ocupando o terceiro lugar em incidência e o segundo em mortalidade entre todos os cânceres no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas em Minas Gerais, em 2023, surgiram 4.630 novos diagnósticos da doença.
A grande maioria dos casos de câncer colorretal está relacionada a fatores ambientais e comportamentais, especialmente dietas pobres em nutrientes e em fibras. Obesidade, sedentarismo, fumo e consumo de álcool também influenciam nas bactérias comensais intestinais, na presença de patógenos e na enterite crônica, enquanto poucos casos são exclusivamente hereditários.
Estudos científicos têm mostrado que substituir ou alterar especificamente a microbiota intestinal influencia a incidência e progressão do câncer colorretal. Por isso, é tão importante estabelecer hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis, uma vez que eles impactam diretamente na microbiota intestinal e, portanto, no sistema imunológico.
Segundo a Dra Pâmela Mancha Agresti, Doutora em Genética de Microrganismos, “essa competição entre as bactérias benéficas e as patogênicas pelos locais de ligação epiteliais do cólon reequilibra a microbiota intestinal, restaura a expressão da proteína da junção estreita das células do cólon e regula os fatores inflamatórios” , afirma. Ela ainda ressalta que os Lactobacillus são componentes importantes da microbiota intestinal e geralmente são usados como probióticos. Assim, a suplementação prévia com eles reduziu a incidência de tumores de cólon. Em breve, o Núcleo de Pesquisa da instituição, em parceria com a Professora Dra Mariana Drumond, do CEFET – MG, irá desenvolver uma linha de estudo da associação de probióticos e câncer colorretal.
Novas parcerias e pesquisas para diagnóstico do câncer colorretal
O Instituto Mário Penna, em parceria com o grupo de pesquisa da Startup OncoTag, o programa de mestrado da Faculdade Ciências Médicas e a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis estão desenvolvendo pesquisas para superar outro desafio no cuidado dos pacientes com câncer colorretal: a avaliação do prognóstico.
Embora alguns aspectos da biologia molecular da doença sejam conhecidos, até o momento, não há marcador molecular de diagnóstico para triagem e predição do câncer colorretal. Atualmente, a pesquisa por sangue oculto nas fezes e colonoscopia são os únicos métodos disponíveis para o diagnóstico precoce do tumor.
Estudos recentes vêm demonstrando que as características dessa neoplasia estão relacionadas à localização topográfica desse tipo de câncer: pacientes com câncer de cólon direito são pessoas mais velhas, principalmente do sexo feminino, e com lesões mais avançadas no diagnóstico. Em contrapartida, os cânceres do cólon esquerdo são mais uniformes e exibem alterações cromossômicas mais relevantes. Apenas 2% dos tumores
malignos no cólon esquerdo apresentam instabilidade genômica e a maioria dos pacientes afetados com câncer colorretal no cólon esquerdo tem melhor resposta ao tratamento, menor risco de eventos metastáticos e maiores chances de sobrevida.
Dra. Letícia Braga, coordenadora do Laboratório de Pesquisa Translacional em Oncologia e líder da pesquisa, reforça o objetivo das pesquisas. “Queremos descobrir um perfil de mutações gênicas que possa ser associado aos tumores de acordo com localização topográfica (direita ou esquerda) do câncer e definir alvos moleculares candidatos à avaliação do desfecho clínico desta doença” , afirma.
A colaboração científica é uma ferramenta produtiva na pesquisa translacional. Assim tem sido o trabalho desenvolvido pelo Mário Penna, junto ao Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). No câncer colorretal, a dosagem do marcador tumoral denominado antígeno carcinoembrionário (CEA) é considerada o padrão-ouro para monitorar pacientes com tumor colorretal após cirurgias ou para medir a resposta à terapia ou mesmo se a doença é recorrente. Atualmente, a dosagem laboratorial de CEA é realizada pelo ensaio imunoenzimático ELISA, usando amostras de sangue do paciente. No entanto, esse método não possui sensibilidade para detectar níveis mais baixos de CEA encontrados em pacientes nos estágios iniciais do câncer.
Neste contexto, o grupo de pesquisa do Laboratório de Química de Nanoestruturas de Carbono do CDTN, liderado pela Dra. Clascidia Furtado, junto aos pesquisadores e médicos do Mário Penna, estão trabalhando na validação da capacidade diagnóstica de biossensores baseados em grafeno e óxido de grafeno. Como diferencial, esses biossensores buscam detectar o CEA em amostras de sangue e urina, através de um método sensível, minimamente invasivo. A pesquisa pretende obter uma ferramenta promissora para o diagnóstico precoce da doença e acompanhamento do seu prognóstico.
Ainda segundo a Dra Clascidia, os biossensores construídos no CDTN já vêm sendo avaliados em laboratório, com bons resultados. “Os níveis de CEA serão dosados em amostras de pacientes com câncer colorretal e comparados aos de pacientes saudáveis. Esse novo método diagnóstico, menos invasivo e de relativo baixo custo, obtido a partir de insumos totalmente nacionais, poderá ser usado em exames de rotina e rastreio, auxiliando, junto à colonoscopia, na detecção precoce da doença.” finaliza