O Laboratório de Pesquisa Translacional do Instituto Mário Penna – Ensino, Pesquisa e Inovação acaba de receber um subsídio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública de fomento à ciência, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O aporte é voltado para o desenvolvimento de um painel genético para biópsia líquida (amostragem e análise de tecido biológico não sólido, principalmente o sangue) de pacientes com glioblastoma – tipo de tumor maligno que atinge o Sistema Nervoso Central e se desenvolve na medula espinhal ou no cérebro.
O objetivo do projeto é desenvolver um método minimamente invasivo, possibilitando o diagnóstico precoce da doença e monitoramento da resposta do paciente ao tratamento. A pesquisa será desenvolvida em parceria com o Laboratório de Bioinformática e Análises Moleculares da Universidade Federal de Uberlândia – Campus Patos de Minas (UFU).
No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o glioblastoma (GBM) apresenta incidência de, aproximadamente, 2,5 para cada 100 mil habitantes e, mesmo com o avanço tecnológico no tratamento e diagnóstico nos últimos anos, ainda é uma doença com prognóstico onde o paciente tem poucas chances de cura ou melhora clínica, geralmente resultando em morte nos primeiros 15 meses após o diagnóstico.
O diagnóstico de GBM é realizado principalmente por exame de imagem e biópsia sólida, onde é retirado um pedaço do tumor para análise laboratorial. Segundo Dra. Carolina Melo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Translacional do Mário Penna, esse é um procedimento cirúrgico extremamente invasivo. “No contexto da saúde pública, conseguir acesso à consulta especializada, agendamento de exame por imagem após suspeita de GBM e marcação de cirurgia para retirada da massa tumoral, que servirá para o diagnóstico, pode representar um tempo indisponível para o paciente.”
A pesquisadora ressalta que, nos últimos anos, diferentes estudos mostraram que é possível detectar em uma simples amostra de sangue do paciente, o material genético (DNA ou RNA) que é liberado pelo tumor. A análise desse material permite a identificação de mutações e alterações características dos tumores. Esse novo método, denominado de biópsia líquida, tem se destacado por ser um procedimento minimamente invasivo e tem apresentado resultados promissores no diagnóstico precoce e no acompanhamento do tratamento de diferentes tipos de câncer.
O grupo de pesquisa do Instituto Mário Penna pretende fazer um estudo piloto, identificando as mutações presentes no DNA de pacientes que já foram atendidos na instituição e que cederam material da biópsia, para a pesquisa. Dra. Carolina Melo destaca ainda que a essência do desenvolvimento do projeto é a identificação do conjunto de mutações, ou painel genético, que permitirá diferenciar o tumor que é glioblastoma daquele que não é. “Para isso, utilizaremos ferramentas de inteligência artificial. Depois de criado, o painel será validado utilizando amostras de sangue de pacientes que estiverem fazendo tratamento para GBM no hospital.”
As etapas da pesquisa consistem em verificar se o material detectado no sangue corresponde ao que será encontrado na biópsia sólida e se o painel genético criado é representativo para ser utilizado na fase de monitoramento da doença, na seleção do tratamento mais adequado e, futuramente, para um provável diagnóstico precoce de novos pacientes. “Diminuir o tempo de espera entre a suspeita e o diagnóstico poderá representar uma sobrevida dos pacientes, uma vez que o tratamento poderá se iniciar mais rapidamente e de maneira personalizada”, conclui a pesquisadora.
Texto: Dra. Carolina Melo | PhD em genética humana e pesquisadora em oncologia do Instituto Mário Penna – Ensino, Pesquisa e Inovação.