O aumento da expectativa de vida vem ocasionando um crescimento no número de pacientes com câncer, sendo esse um dos grandes desafios da saúde humana na atualidade, bem como um problema de saúde pública em todo o mundo. Encontrar tratamentos específicos para o cenário oncológico, que garantam uma alta taxa de sucesso e efeitos colaterais mínimos, é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas com câncer.
Os tratamentos já existentes, com um potencial curativo, limitam-se diretamente ao diagnóstico precoce do tumor. Em estágios avançados, a doença torna-se mais difícil de combater, principalmente devido à alta probabilidade de metástase (formação de uma nova lesão tumoral), determinando menor sobrevida. Além disso, os tratamentos disponíveis, muitas vezes são agressivos para o paciente e, ainda na grande maioria dos casos, exige a combinação de mais de uma modalidade terapêutica.
Uma inovadora possibilidade de tratamento contra o câncer, ainda em desenvolvimento de pesquisa, é a do “vírus oncolítico”, uma técnica que utiliza vírus capazes de matar células cancerígenas. O primeiro relato do uso dessa terapia foi registrado em 1948, quando George T. Pack descreveu o caso de uma mulher de 32 anos, acometida por melanoma maligno que, após ser mordida por um cão, foi submetida a aplicações de vacina antirrábica o que culminou no desaparecimento total do tumor. Estes entre outros casos de redução de tumores em pacientes com infecções virais ampliaram a visão da comunidade científica sobre novos caminhos para o tratamento do câncer.
A principal aplicabilidade da terapia com vírus oncolíticos é a utilização dessa imunoterapia viral a fim de que haja um estímulo celular no sistema imune do paciente. Nesse processo, os antígenos virais induzem o reconhecimento do sistema imunológico das células tumorais e, consequentemente, a destruição das células cancerígenas. Para garantir a segurança desta terapia, são realizadas modificações no material genético viral, excluindo genes que conferem patogenicidade (capacidade de produzir doença) e o ataque à tecidos saudáveis, bem como a inserção de novos genes com funções importantes para a terapia tumoral.
A terapia com vírus oncolíticos está ampliando a visão da comunidade científica sobre novas opções de tratamento do câncer. A aprovação de medicamentos com essa tecnologia é um grande passo para a humanidade, rumo a uma possível “cura” para o câncer. A terapia está em fase de teste e, mundialmente, algumas agências reguladoras já aprovaram a aplicação da técnica em pacientes, como é o caso da FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil, a EMA (European Medicines Agency) na Europa e a PMDA (Pharmaceuticals and Medical Devices Agency) no Japão.
O Instituto Mário Penna – Ensino, Pesquisa e Inovação está avaliando propostas para a implementação de uma plataforma de cultivo de células, a fim de garantir condições adequadas para o desenvolvimento de pesquisas na área de oncovirologia. A unidade, sempre atenta a novas tecnologias, visa promover estudos do comportamento das células, bem como análises pré-clínicas voltadas para a terapia com vírus oncolíticos.
Texto: Dr. Jorge Gomes Goulart Ferreira | Pesquisador em Oncologia do Laboratório de Pesquisa Translacional do Instituto Mário Penna – Ensino Pesquisa e Inovação.